Uma bomba da Segunda Guerra Mundial explodiu no dia 2 de outubro em um aeroporto regional no sudoeste do Japão, causando uma cratera de 6 metros de largura no meio da pista de taxiamento próxima à pista de decolagem.
O incidente não tão raro ocorreu dias depois que Naha, outra cidade no sudoeste do Japão, evacuou cerca de 1.400 pessoas antes de uma operação em larga escala para descartar uma bomba não detonada dos anos de guerra (1939-45).
A bomba de 250 quilos - que se acredita ter sido lançada no final da Segunda Guerra Mundial, quando os aviões militares dos EUA bombardearam fortemente o Japão com munições mortais - foi encontrada por funcionários da prefeitura que faziam um trabalho de rotina de esgoto em uma área residencial em dezembro passado.
No Japão, as bombas lançadas há mais de 80 anos explodem ou são encontradas enterradas sem detonação em grande número todos os anos.
A Força de Autodefesa Terrestre do Japão (GSDF), que é responsável pelo descarte de material bélico não detonado, lidou com 2.348 casos de aproximadamente 37,5 toneladas de explosivos em 2023.
Sua organização irmã, responsável pelo descarte de minas submarinas, lidou com 197 peças pesando cerca de 4,1 toneladas no ano passado.
A natureza frequente de tais incidentes levanta a questão de por que as autoridades japonesas ainda não localizaram e descartaram essas bombas não detonadas de 80 anos atrás.
Por que o Japão tem tantas bombas que não explodiram?
O principal motivo de um grande número de bombas não detonadas ainda serem descobertas no Japão é o intenso bombardeio dos EUA, que realizaram ataques de alta altitude à luz do dia, buscando atingir alvos industriais e militares.
No entanto, uma combinação de falhas mecânicas, defesa aérea japonesa e fortes ventos de corrente de jato muitas vezes tornava esse bombardeio impreciso.
Um relatório de 2005 do The Japan Times disse que a GSDF retirou uma bomba de 1.83 m de comprimento da casa de uma mulher de 84 anos que disse às autoridades que a bomba estava “lá fora, em algum lugar”.
Quando ela se casou em 1949, a família de seu marido lhe disse que três bombas haviam caído em seu terreno, mas não explodiram.
Duas das três bombas foram levadas pelas forças norte-americanas após a guerra, enquanto a terceira foi deixada em sua propriedade porque havia “estava enterrada muito fundo” no solo.
A bomba permaneceu enterrada por anos porque as autoridades insistiram que ela confirmasse sua existência e indicasse sua localização.
Embora seja função dos governos central e local remover as bombas, a localização delas geralmente é deixada a cargo dos proprietários de terras, que arcam com suas próprias despesas.
Já com 80 anos quando a reportagem foi publicada, a japonesa disse que não queria “passar o legado negativo para as gerações mais jovens”.
Após a guerra, o Japão priorizou a reedificação de sua infraestrutura e sua rápida reconstrução, às vezes, levou ao enterro ou à negligência de bombas não detonadas em áreas onde novas construções estavam sendo realizadas.
Embora os avanços tecnológicos tenham melhorado os recursos de detecção, a localização de material bélico enterrado continua sendo um desafio. A busca por bombas não detonadas pode ser tediosa e cara: em média, são cavados 100 buracos para cada munição não detonada encontrada.
Além disso, os materiais explosivos dentro das bombas enterradas no fundo do solo podem se degradar. Isso torna os explosivos mais instáveis e propensos à detonação se forem afetados, tornando sua remoção ainda mais arriscada.
Quantas bombas ainda não foram contabilizadas?
Não há um número exato do número de bombas não detonadas que ainda estão enterradas no Japão. Entretanto, estima-se que milhares de toneladas de explosivos da Segunda Guerra Mundial permaneçam no subsolo.
A descoberta dessas bombas continua a ser uma ocorrência regular, mesmo décadas após o fim da guerra. Os analistas dizem que pode levar mais 70 a 100 anos para eliminar todas as bombas enterradas no Japão.
Os EUA e seus aliados lançaram principalmente três tipos de bombas no Japão. As bombas altamente explosivas foram usadas em cidades e instalações industriais para causar o máximo de destruição por meio de “explosão e fragmentação”.
As bombas incendiárias, que eram preenchidas com substâncias inflamáveis, foram lançadas para iniciar tempestades de fogo nas cidades, enquanto as bombas de fragmentação, que continham fragmentos de bombas menores, foram usadas para infligir baixas generalizadas.
Entretanto, muitas dessas bombas nunca explodiram devido a defeitos de fabricação. Algumas bombas eram equipadas com temporizadores ou fusíveis de impacto que podiam ser ajustados para detonar em momentos específicos ou no momento do impacto com uma determinada força. Configurações incorretas significavam que a bomba não explodiria como previsto.
Fatores como temperatura, umidade e condições do solo também podem fazer com que o mecanismo de detonação da bomba falhe.
Por que as bombas enterradas há muito tempo ainda são uma ameaça?
O simples fato de essas bombas terem permanecido enterradas por oito décadas indica a probabilidade de que seus materiais explosivos tenham se degradado com o tempo.
Os explosivos degradados tendem a se tornar instáveis porque se decompõem no solo, o que aumenta o risco de detonação acidental.
Portanto, qualquer distúrbio devido a construções, escavações ou até mesmo chuvas fortes nas proximidades pode desencadear uma explosão.
Igualmente importante é o impacto psicológico desses dispositivos não detonados.
A ameaça de bombas explodindo a qualquer momento gera medo e ansiedade em áreas como Okinawa, que foi bombardeada com 200.000 toneladas de explosivos de bombas. Acredita-se que cerca de 10.000 toneladas ainda estejam enterradas na ilha.