Guerra da Coreia aos 70 anos: Os sacrifícios turcos que os sul-coreanos ainda veneram
Türkiye
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Guerra da Coreia aos 70 anos: Os sacrifícios turcos que os sul-coreanos ainda veneramA guerra começou em 25 de junho de 1950, quando a Coreia do Norte atacou o seu vizinho do sul, e terminou em 1953, mas o seu legado continua a ser sentido nos corações e mentes de pessoas em todo o mundo.
70º Aniversário da Guerra da Coreia: Os sacrifícios dos soldados turcos lembrados com gratidão pelos sul-coreanos
27 de fevereiro de 2025

Há setenta e três anos atrás, o parlamento turco aprovou uma proposta do então Primeiro-ministro Adnan Menderes para enviar tropas a fim de defender a Coreia do Sul contra uma agressão da Coreia do Norte, que contava com o apoio da China e da União Soviética.

A brigada turca ganhou rapidamente a alcunha de “unidade distinta”, graças à sua ação furtiva e à sua bravura, que impulsionou os esforços da aliança ocidental para subjugar o exército invasor. Muitos sul-coreanos ainda recordam esta brigada com reverência.

“Eu desejo que a guerra nunca aconteça em nenhum lugar, nunca mais, mas uma vez iniciada, não podes fugir dela”, disse Mustafa Recberoglu, um veterano da Guerra da Coreia, de 96 anos, que vive em Istambul, em entrevista à TRT World.

Os olhos de Recberoglu enchem-se de lágrimas enquanto ele relembra as suas memórias da guerra.

“Fomos treinados durante dois meses em Ancara. Dali, apanhámos o comboio uma manhã e fomos para Iskenderun. Cruzámos o Canal de Suez num navio. Também cruzámos os oceanos e, após dias de viagem, finalmente chegamos à Coreia. Passámos por muitas dificuldades. Alguns dos amigos que foram connosco da Türkiye morreram e ficaram lá. Quando penso nisso, fico emocionado”, conta Recberoglu.

Uma base positiva para as relações

A brigada turca foi uma das primeiras tropas estrangeiras a chegar à Coreia. Embora tenha sido bem sucedida a alterar o curso do conflito, os sacrifícios exigidos por esses ganhos militares foram imensos – pelo menos 900 soldados turcos perderam as suas vidas a defender a Coreia do Sul. Os restos mortais de 462 deles estão enterrados no Cemitério Memorial da ONU na Coreia, em Busan, Coreia do Sul.

“Comemoramos com respeito e gratidão todos os nossos mártires que sacrificaram as suas vidas no 70º aniversário do fim da Guerra da Coreia”, disse Murat Tamer, embaixador da Türkiye na Coreia do Sul.

“O exército turco mostrou grande heroísmo na Guerra da Coreia e teve um efeito decisivo no curso da guerra. Eles alcançaram a vitória na Batalha de Kumyangjang-ni, na cidade de Yongin, província de Gyeonggi, permitindo que as forças da ONU, que até então haviam recuado, respirassem e iniciassem o contra-ataque”, acrescenta Tamer, em entrevista à TRT World.

A Guerra da Coreia foi um momento crucial para a Coreia do Sul e a Türkiye formarem laços bilaterais fortes que se fortaleceram com o tempo.

“A Guerra da Coreia formou uma base positiva para as relações entre os dois países e os dois povos. Graças aos soldados dos dois países lutando lado a lado, a Türkiye e a Coreia do Sul são dois países ‘irmãos de sangue’. Continuamos a trabalhar com determinação para desenvolver as relações bilaterais construídas sobre essa base em todos os campos”, diz Tamer.

Os soldados turcos destacados na Coreia do Sul não partiram imediatamente após a guerra, mas permaneceram lá como força de manutenção da paz da NATO até 1971.

Ayla: uma órfã no campo de batalha

Os sacrifícios feitos pelos soldados turcos na Guerra da Coreia não se limitaram ao heroísmo no campo de batalha.

Entre os países que participaram da Guerra da Coreia, a Türkiye foi o único a construir uma escola para crianças coreanas que ficaram órfãs na guerra. Kim Eunja, ou Ayla, foi uma dessas crianças da guerra.

A história de Ayla, que mais tarde foi transformada em filme, captura perfeitamente os eventos que inspiram fé na humanidade. Uma noite, no auge da guerra, Suleyman Dilbirligi, um dos soldados turcos, encontrou uma menina coreana de 5 anos cujos pais haviam sido mortos no campo de batalha.

Suleyman mais tarde disse que a menina tinha “um rosto como a lua” e deu-lhe o nome de Ayla, que significa, em turco, “o anel de luz visto ao redor da lua e das estrelas”.

Suleyman cuidou de Ayla durante 15 meses nas quartéis militares turcos. No momento de regressar à Türkiye, ele teve ajuda dos seus colegas superiores para matricular Ayla na Escola de Ancara, fundada pelo exército turco na Coreia do Sul.

Para Suleyman, foi uma decisão difícil deixar Ayla para trás. Ele queria levá-la para a Türkiye e criá-la como sua filha. Segundo relatos históricos, ele tentou levar Ayla para fora do país numa mala, mas não conseguiu.

Mustafa Recberoglu, amigo de Suleyman, que também serviu na Guerra da Coreia, lembra vividamente do momento em que Suleyman trouxe Ayla para as casernas.

“Eu estava sempre a ver a Ayla”, diz Recberoglu.

Won IK Lee, embaixador da República da Coreia em Ancara, também reconhece os sacrifícios e a dedicação das tropas turcas na Guerra da Coreia, dizendo que deixaram “uma marca muito impressionante na memória do povo coreano”.

“A participação de soldados de muitos países, incluindo a Türkiye, na Guerra da Coreia, e os sacrifícios e contribuições dos veteranos coreanos protegeram a liberdade e a democracia da Coreia e possibilitaram a existência da atual República da Coreia. Mesmo após 70 anos, a República da Coreia não esqueceu esses sacrifícios e ficará eternamente grata”, disse Lee à TRT World.

Mais de 60 anos após a guerra, Ayla e Suleyman encontraram-se no Parque Ancara, em Seul, Coreia do Sul, graças aos esforços de alguns jornalistas, que localizaram Ayla com a ajuda de fotos suas da infância.

Suleyman tinha envelhecido para além do imaginável e Ayla era agora uma mulher de meia-idade. Ao verem-se depois de tanto tempo, Suleyman e Ayla ficaram emocionados.

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