Guerra em Gaza
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Primeiro-ministro britânico, retoma a política de Blair e trai os britânicos em relação à Palestina
Starmer não só está a ir contra o manifesto trabalhista, como está a ignorar os 70% da população que querem que Israel acabe imediatamente com a guerra.
Primeiro-ministro britânico, retoma a política de Blair e trai os britânicos em relação à Palestina
83% dos eleitores do Partido Trabalhista querem que Israel termine a guerra, segundo o YouGov. / Foto: Reuters
18 de fevereiro de 2025

O Primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem evitado descrever a guerra implacável de Israel contra os palestinianos em Gaza como um genocídio, apesar de o Partido Trabalhista assumir tradicionalmente posições anti-guerra, à exceção de algumas ocasiões em que Tony Blair apoiou a invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003.

Starmer está a repetir as políticas da era Blair ao ignorar a maioria da opinião pública, uma vez que 73% dos britânicos apoiam um cessar-fogo incondicional e 60% consideram que Israel foi longe demais na guerra, de acordo com a última sondagem da Ipsos. 

Essa clara divisão entre a opinião pública e a política governamental levanta sérias questões sobre as prioridades morais do Reino Unido, e se a política externa do país está a servir interesses nacionais ou interesses de atores estrangeiros. 

Opinião Pública: A voz retumbante do bom senso 

Os eleitores do Partido Trabalhista também se sentem traídos pelo regime de Starmer. De acordo com o relatório de fevereiro da YouGov, 83% dos eleitores do Partido Trabalhista querem que Israel termine a guerra. 

A recusa da liderança do Partido Trabalhista em apoiar uma resolução de cessar-fogo no parlamento e a subsequente renúncia de vários deputados em novembro de 2023 afastaram ainda mais a base eleitoral. 

A falta de uma estrutura no governo de Starmer para pressionar Israel a reduzir as tensões fez com que os britânicos começassem a perceber as falhas do governo cada vez mais, com 40% da população avaliando o desempenho de Starmer e do governo do Partido Trabalhista como medíocre. 

35% da população expressa insatisfação profunda, acreditando que Starmer está a sair-se mal nas suas funções. 

Em consequência, o país assistiu a protestos em grande escala, envolvendo centenas de milhares de pessoas, exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza. Os slogans mais comuns nas ruas foram “Stop Arms Sales” ( Fim à venda de armas), “Ceasefire Now” (Cessar-fogo agora) e “Justice for Palestine” (Justiça para a Palestina).

Estes protestos não foram uma excepção, mas uma expressão apoiada pela maioria da sociedade britânica, representando diferentes origens políticas, religiosas e culturais. 

A postura do Governo: políticas alinhadas com aliados, não com o povo 

O manifesto do Partido Trabalhista afirma claramente que a criação de um estado palestiniano independente é "um direito inalienável" dos palestinianos. O partido também se comprometeu a apoiar uma solução de dois estados. 

No entanto, na prática, o governo do Partido Trabalhista adoptou políticas que apoiam a máquina de guerra de Israel, em vez de apoiar os palestinianos sob ataque, que enfrentam uma situação descrita como genocídio por muitos especialistas internacionais, com uma postura diplomática de neutralidade na ONU, vendas de armas e outros apoios a Israel.

A contínua abstenção do Reino Unido relativamente às resoluções sobre o cessar-fogo na Assembleia Geral da ONU isolou o país da comunidade internacional, numa altura em que os apelos à justiça aumentam em todo o mundo. 

A retórica diplomática injustificada de que Israel poderia matar um grande número de civis em legítima defesa foi rejeitada em todo o lado. Numa tentativa de acalmar os cidadãos britânicos, o Ministro dos Negócios Estrangeiros David Lammy anunciou a suspensão de 30 das 350 licenças de venda de armas a Israel. Mas esta medida não conseguiu convencer a opinião pública. Pelo contrário, foi vista como uma medida simbólica. 

Parlamento dividido 

As imagens alarmantes do sangue derramado em Gaza levaram muitos países europeus a repensarem as suas políticas em relação a Israel. Países como a Espanha, Noruega e Irlanda reconheceram o estado da Palestina e, ao invés de se submeterem à abordagem militar rígida dos Estados Unidos e seus aliados pró-Israel, traçaram um caminho alternativo alinhado com os apelos globais por justiça para a Palestina. 

A relutância do governo britânico em responsabilizar Israel pelos seus crimes de guerra e em juntar-se aos esforços globais para pôr fim à sua guerra em Gaza está a prejudicar a sua reputação no país e no estrangeiro. O seu potencial papel de mediador imparcial em vários conflitos também foi posto em causa. 

Uma sondagem YouGov EuroTrack de outubro de 2024 mostrou que os europeus ocidentais se opõem claramente à ajuda militar a Israel, mesmo na eventualidade de uma guerra em grande escala com o Irão, enquanto o público britânico manifestou sentimentos semelhantes. Esta mudança significativa expõe o fracasso da propaganda israelita, bem como as fraquezas dos estados ocidentais, que são incapazes de defender a justiça e de controlar uma potência indisciplinada como Israel.

No Reino Unido, a confiança no governo está em jogo e uma maior desarmonia pode causar danos irreversíveis à coesão social, uma vez que a inação de Starmer o alinhou inadvertidamente com forças sionistas obscuras e de extrema-direita que nutrem um ódio e uma hostilidade primordiais contra os muçulmanos.

Até agora, a liderança de Steamer registou a demissão de 50 conselheiros, incluindo figuras proeminentes do Partido Trabalhista, como os presidentes de câmara Sadiq Khan e Andy Burnham, bem como o líder do Partido Trabalhista escocês, Anas Sarwar. Muitos outros dirigentes sentem-se indignados, impotentes e inadequados face a um genocídio que tem sido transmitido em direto pelos nossos telefones desde o dia 7 de outubro de 2023.

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